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domingo, 21 de junho de 2009

FORMANDO O CARATER DA CRIANÇA

FORMANDO O CARATER DA CRIANÇA

O QUE É CARÁTER?

O dicionário Aurélio define caráter como “o conjunto de qualidades (boas ou más) de um indivíduo, e que determinam sua conduta e concepção moral.” A palavra caráter, cuja origem grega tinha a ver com a impressão de uma marca sobre um objeto, geralmente usando meios permanentes como o ferro quente ou o talhe em madeira, mostra que o caráter é algo que distingue uma pessoa, aquilo que a torna inconfundível. É o caráter que torna possível prever as ações e atitudes de uma pessoa. Sabemos o que esperar de uma pessoa fraca, sem muito compromisso com a verdade. Da mesma forma, podemos confiar na palavra da pessoa honesta. O caráter mora na vontade da pessoa. Na pessoa adulta o caráter é persistente, pois, ao mesmo tempo em que pode sofrer mudanças, resiste a elas.

A socióloga Ângela Marulanda, em seu livro O desafio de crescer com os filhos, diz: “caráter é aquilo dentro de nós que regula o nosso agir moral.” Podemos ter um caráter bem formado, ou o contrário, malformado, faltoso. Ângela Marulanda ainda afirma “um caráter solidamente formado é o que nos dá firmeza moral para agir de forma justa mesmo em situações adversas; o que nos faz dizer a verdade mesmo quando não convém; o que nos dá coragem para superar os castigos ainda que não acreditemos que somos merecedores deles; o que nos permite dominar nossas reações e instintos para deixar-nos guiar pela sabedoria e pela bondade do coração.”

O mau caráter não é aquele que escolhe deliberadamente ser mau (ninguém escolhe isso). O mau caráter é aquele que não tem convicção própria, é levado pelos outros e, por isso, facilmente cai em tentação. Por ser fraco, está sempre procurando se safar, sobreviver, custe o que custar, o que muitas vezes o leva a ser desonesto, corrupto, injusto, violento, enfim, mau.

Existem graus de má-formação do caráter. Num grau elevado ele causa até a morte da pessoa (envolvimento com drogas, crime e outras atividades auto-destrutivas); num grau moderado leva a pessoa à uma vida medíocre (não consegue manter um emprego, se dá mal nos relacionamentos); e, num grau mais brando, ele neutraliza uma ação eficaz da pessoa (sonhos não se realizam, não desenvolve seus dons naturais).
É de se esperar, portanto, que o inimigo mortal dos seres humanos, o Adversário, o Tentador, o Acusador, invista muito e sempre contra as crianças, submetendo-as a ambientes opressores e deformadores da alma humana.

Como o caráter é formado?

A criança nasce sem caráter! Ele vai ser desenvolvido, moldado ao longo da vida, a partir da resposta interna da criança, frente às experiências e à interação com outros.
Essa resposta interna é muito importante porque depende, até certo ponto, do desenvolvimento intelectual e emocional da pessoa. Todos nós precisamos pensar, refletir e decidir que opções de resposta temos diante de qualquer situação. É o intelecto que interpreta e nos informa o que está acontecendo.

Por exemplo, a maneira como disciplinamos uma criança pode ser bem ou mal interpretada. Vamos supor que, num momento de muita raiva, você se irrita e fala uma porção de besteiras para uma criança. Ela pode acreditar em tudo o que você disse, sentindo-se ameaçada, temendo pela própria vida; ou pode ignorar uma parte do que você disse, porque percebe que você se alterou. Isso terá um grande impacto nas reações e até no que ela sentirá (medo, frustração, indiferença).

Essa é a razão pela qual o ambiente da criança tem tanto impacto sobre a formação do seu caráter. O meio cria maneiras de enxergar, de interpretar os acontecimentos. É a cultura da família e da comunidade local que mostra para a criança o que é aceitável, o que é corriqueiro, o que é vergonhoso, o que é fantástico, o que é honroso, o que é bonito. É o meio que inculca valores, os quais são os ingredientes que a criança usa para interpretar a realidade e depois para reagir, com uma resposta própria, a essa realidade. Não é à toa que Deus, para se manifestar a nós, escolheu uma comunidade e trabalhou os seus valores (os Dez Mandamentos, a Lei e os Profetas) muito antes de se revelar na pessoa de Jesus Cristo.

Conclusão: o caráter é formado como o resultado das nossas respostas interiores diante das lições que a vida nos dá. Não é resultado direto do meio em que vivemos, mas é altamente influenciado por ele.

Quem influencia mais na formação do caráter de uma criança?

Quem se relaciona mais com ela. O fator mais importante de influência está nas pessoas que cuidam da criança, nas pessoas que ela identifica como pertencente “Eu sou de fulano”. Quanto mais vínculo afetivo um adulto consegue estabelecer com uma criança, mais influência ele terá. Quanto mais tempo de relacionamento, maior o impacto sobre a criança. Isso é uma faca de dois gumes: há casos de abuso sexual que exercem grande impacto na formação do caráter da criança abusada. Nesses casos o abuso ocorre ao longo de um período grande de tempo e o abusador consegue estabelecer um vínculo afetivo muito forte com a criança. Por outro lado, temos histórias magníficas de crianças que superaram influências negativas de todos os lados, porque tinham um relacionamento de amor e constância com uma pessoa íntegra e bondosa.

Como podemos influenciar na formação do caráter das crianças?

Não podemos ensina-lo nem inculcá-lo em ninguém. Podemos sim, influenciar, estimular, ensinar princípios morais e oferecer modelos.
Após refletirmos sobre o que é o caráter e como ele é formado, identificamos algumas frentes de ação:
- Trabalhar para transformar o meio, o que envolve a luta pelos direitos das crianças na sociedade em geral, mas também inclui o trabalho de formação de comunidades alternativas, um oásis no deserto. Nesse “oásis” é importante criar estruturas que vão desde o lugar físico até os acordos de convivência que ressaltem os valores que queremos passar. (Pergunte-se, como uma criança ou adolescente se sente nesse ambiente?)

- Trabalhar os valores da nossa comunidade, para que as crianças tenham opções saudáveis de resposta interna. Por exemplo, o ambiente cultural em que uma criança vive pode lhe ensinar que as mulheres são inferiores aos homens. Acreditando nesse valor, a criança tem poucas opções. Os meninos maltratarão as meninas, as meninas se tornarão resignadas. Trabalhando o valor “igualdade de gêneros” de forma eficaz, a vida, tanto dos meninos quanto das meninas, mudará radicalmente. Nesse caso o ensino dos princípios bíblicos morais é vital.

- Trabalhar com a família. (confessemos que a nossa tendência em trabalhar com a criança isoladamente não funciona!)

- Trabalhar o vínculo afetivo com as crianças e adolescentes que Deus nos der.

- Trabalhar o nosso próprio caráter.

Para finalizar, a socióloga Ângela Marulanda encoraja: “As qualidades que se desprendem do caráter, aquelas que nos dão força moral, como a tolerância, a generosidade, a compaixão, a perseverança ou a coragem, não se desenvolvem na abundância, mas na moderação, e não se enriquecem com as distrações, mas com as dificuldades, da mesma forma que alguns bons músculos se formam com trabalho árduo, esforço e constância.” Pois bem, é hora de malhar!


FONTE: http://www.maosdadas.org

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